Não é que eu tenha medo das tempestades,
é que já bastam as que acontecem dentro de mim.
A chuva derramada de olhos marejados que não conseguem dormir.
O medo que os clarões me acordem dos sonhos que não vivi.
É o barulho que faz o silêncio quando a vida perde o azul do céu e fica cinza,
nublada.
A nuvem carregada do pensamento turvo que descarrega trovões.
Explosões.
As descargas elétricas de uma alma perturbada perdida no espaço.
Eu tenho medo das janelas que se fecham.
Das portas que batem.
Da luz que se apaga.
Do frio da madrugada sem aconchego e amor.
Eu tenho medo do que me inunda sem transbordar.
Do que faz mais barulho do que harmonia.
Abafando a melodia gostosa de uma canção de ninar.
Eu tenho medo de precisar me proteger.
Me esconder debaixo de cobertas e coberturas que não me cabem.
Tenho medo dos troncos das árvores,
que vivem tão firmes
e, no entanto, caem.
O que eu tenho medo é do barulho dos carros,
derrapando com seus assobios,
como avisos do que poderia ter acontecido…
Ou não.
Dos faróis embaçados de um olhar que perdeu o brilho.
Do granizo que atinge o teto de metal,
como tiros.
Como as fisgadas no peito das feridas que não conseguimos arrancar.
Eu tenho medo dos banhos de chuva que não ousamos tomar.
Da natureza intempestiva de uma relação que chegou à seca.
Das raízes que apodrecem de tanto chorar molhar.
De tudo aquilo que esquecemos de regar.
Eu tenho medo que a ventania faça de mim furacão.
Liberte essa dor temporal.
A revolta da efemeridade da vida.
A vulnerabilidade em meio ao universo que grita.
Não é que eu tenha medo da tempestade,
é do que de mim ela sobrescrita.
PS: Você já choveu amores de onde não queria partir?
Ao som de: Love like this
“Well, I sleep all day
And drink all night
Just give me one good reason(…)
And I’m looking for the answer I don’t understand
And, darling, I am terrified
I’m terrified”
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