Eu queria te tirar do lugar de dor que você habita. Te mostrar o lugar de amor onde me escondi pra fugir do que me rasga o peito.
Todos os dias eu acordo e tento ser mais amor que ontem, ser mais perdão, mais compreensão com o jeito de amar de cada um… Todos os dias eu tento julgar menos… Esperar menos… Criar e alimentar menos as expectativas salientes e despretensiosas que surgem pequenininhas, inofensivas, e deixam seu rastro adocicado que atrai as frustrações gigantescas e dolorosas.
Todos os dias eu tento despistar minha própria mente… Ela me coloca um medo, eu olho pro outro lado e contemplo as borboletas. Ela insiste… Me mostra as cicatrizes… Pois finjo que não vi e cantarolo músicas que me fazem sorrir. E ela não desiste… Fica brava com a falta de atenção, apela para a solidão, e me faz questionar cada um dos meus sentimentos bons. Porque não pode tá tudo bom. Tem algo errado nisso. Tem que ter! Nessas horas fica meio difícil ignorá-la e eu vou dormir. Respiro… respiro… e vou dormir.
No dia seguinte eu luto de novo. Acordo e penso “Hoje não!”. E volto a olhar pras borboletas e boas músicas… pros bebês que passeiam nas ruas… pro amor que grita dentro de mim e me diz “Heeeey, eu to aqui. Não escuta ela não… Escuta aqui oh… é mais pra baixo… um negócio chamado coração”.
E todos os dias eu insisto em seguir meu coração.
Mas eu entendo de dor… Muito mais do que eu gostaria e o suficiente pra ter aprendido a não abraçá-la.
Sabe… se engana quem acha que a dor é um monstro feio e amedrontador. A dor é bonitinha… aconchegante… Ela abraça o nosso íntimo, acaricia nossos cabelos e diz “não há o que fazer, fica aqui quietinho, deita aqui e economiza energia, você merece descansar”.
E às vezes não há o que fazer mesmo. O jeito é seguir em frente… Percebe? SEGUIR… EM FRENTE…
Não é sobre deitar e economizar energia. Não é sobre se aconchegar na dor. É sobre ter a coragem de aceitar que às vezes não há o que fazer. Que não tá tudo sob o nosso controle. Aceitar que a vida segue um curso, e a gente tem que seguir com ela… Porque senão a gente fica lá atrás, deitado na mesma dor.
E se abandonar na dor nos protege… É viver no conhecido. Não dói mais, a ponto de nos matar. Não dói menos, a ponto de nos confundir. Falo com a tranquilidade de quem cedeu aos encantos dolorosos e aconchegantes por toda uma vida.
Da dor eu vim. Na dor vivi. Fui dor. A dor não quero mais ouvir. Hoje me fala apenas o amor.
E devo te dizer… O amor não é uma coberta quentinha que nos aconchega e nos faz descansar. O amor é furacão e vendaval. É bagunça. Uma montanha russa muito louca que parece que vai te despedaçar todinho. E com todo esse risco… o amor é lindo! Te faz sorrir e dizer “vamos de novo”. Me deixa sentir esse frio na barriga. Eu quero ver o que vem depois… O próximo pico a ser escalado… Arrumar a bagunça pra bagunçar tudo de novo.
O amor é para os corajosos. Mas ele faz ver e viver coisas que o aconchego jamais permitiria.
Se quiser, meu amor te dá uma mão.
Eu não posso chegar no lugar de dor que você habita. Lá não é permitido que eu entre porque carrego memórias demais… Beijos demais… Cheiros demais… Carrego amor demais, pra confundir tua dor e te resgatar… Por isso não posso chegar.
Mas consigo te dar a mão, se quiser me acompanhar.
Não posso prometer que todos dias serão de riso, mas prometo que vou me esforçar. Não posso te prometer tranquilidade, porque dá um pouco de trabalho transbordar. Não posso te prometer que o chão não sairá dos teus pés, porque o que eu quero é te fazer voar.
Mas eu te prometo ficar… Eu prometo meus braços pra te abraçar… Meus beijos pra te beijar… Eu prometo meu coração pra te amar…
Eu te prometo ficar… Todos os dias…
E te mostrar as borboletas do lado contrário da dor… Os bebês e as músicas bonitas… Segurar sua mão na montanha russa… Eu te prometo novas aventuras… E que não falta amor nesse novo lugar. E que se você chegar… e ficar… nunca vai faltar!
Ps.: Todos os dias eu te espero voltar. Volte! ♡
Ao som de: Gavi – meu bem.
Ao álcool de: água.
“Eu não desisto, e aí
Insisto mais um pouquinho
Cancela tudo e me beija devagarinho
Que o melhor da vida vem, vem
E no final de tudo a gente sempre fica bem”
Carlinha
•4 anos ago
Sou sua fã.
Ostra
•4 anos ago
Aaaaah, Carlinha…. Aqui a relação é de fã pra fã! Você é incrível, mulher! Obrigada pelo apoio sempre 💗
Probleminha
•4 anos ago
A dor é um flagelo entre o que se espera (o desejo) e o medo de como será (as incertezas). Viver na (ou da) dor é se abrir ao sentimento verdadeiro e expandir as compreensões sobre o sentir e o viver. Já o amor… Ah, o amor! Desencantos do mesmo desejo e das mesmas incertezas que nos cegam ao óbvio e nos faz abandonar na sólida e intransigente ideia de que alguém sempre nos espera do outro lado.
Ostra
•4 anos ago
Mas o medo… ele paralisa. Antecipa o sofrimento. E é aí é que mora o perigo. Rs. Se der medo, vai com medo mesmo. Nenhuma dor é maior do que a frustração de não ter vivido. 😘
Eu não quero escrever sobre você - De dentro da Ostra
•4 anos ago
[…] os lugares de dor em que me encontro já são duros demais pra que eu suporte os lugares de amor que não mais […]