.
“- Você às vezes entra numa bad? Sente vontade de fugir?
– O tempo todo!”
.
Eu fui uma adolescente clichê. Com medo da rejeição e odiando o ensino médio com todas as suas garotas perfeitas e garotos perfeitos que me cobravam perfeição. Talvez eu ainda seja. Mas meu medo nunca foi ser rejeitada, eu sempre tive medo dos que ficam!
É… Eu tenho medo é dessas pessoas que ficam, assim, sorrateiramente, sem querer ficar. Tenho medo dos que ficam e fingem gostar. Desses que estão sempre por perto, sorrindo e acenando sem se importar de fato.
Eu tenho medo dos que ficam com bom dia’s vazios, com tapinhas nas costas e com disputas de ego. Dos que te prendem em conversas sobre a vida e “printam” fragilidades pra usar mais tarde. Desses, cheios de amabilidades obscuras demais pra gente enxergar. Medo das pessoas que ficam, mas demoram alguns segundos pra te fazer ficar.
Eu tenho medo é dessas pessoas que te cercam, cativam, sem se cativar. Que te oferecem amor e amizade, mas que não vão estar lá. Essas pessoas que ficam e te amam nos dias bons, com sol bonito e brisa na janela da alma. Mas são incapazes de suportar seu sucesso ou coração frágil.
Tenho medo dessas pessoas que não vão embora, te prendem no chão, sem te deixar voar. Medo dessas pessoas que ficam quando é conveniente. E depois desaparecem, mas não vão embora.
Deixam contigo o sabor do que é raso, irreal, falso, pequeno. Com migalhas de um sentimento encenado, pra te bagunçar as ideias e colocar no fundo do peito aquele “mas e se?”.
Esses que ficam não te deixam partir.
Mas partem e despedaçam os dias de uma maneira amarga. Gotinha por gotinha de um café preto, frio e sem doce. Até que um dia a caneca transborda, o corpo arrepia e a vontade de fugir e sumir é tão grande que você poderia sair correndo e se esconder debaixo da cama.
Eu entro numa bad. Me canso das pessoas. Do mundo. Das coisas do mundo. De tudo o que é superficial e tudo é tãaaao superficial…
Me canso da vida. De mim. De pensar e sentir como um poeta bêbado no ultrarromantismo blasé. Sinto vontade de fugir e viver em exílio. Perto dos pássaros.
Então eu tiro a roupa, entro num banho quente e respiro sozinha. Um segundo de cada vez, garota. Uma respiração por segundo. A gente só compra a briga que pode brigar. Um segundo pra voltar a respirar.
E a bad, e a vontade de fugir, a gente senta e espera passar.
Para entrar no clima:
“Não tiro a razão de quem não tem razão
Não ponho a mão no fogo pois é verão
Não dou razão pra quem perde a razão
Preste atenção então
Vá procurar o que caiu da mão
Refazer sozinho o caminho olhando pro chão
Gente demais
Com tempo demais
Falando demais
Alto demais”
(Tiago Iorc – Alexandria)
Sem comentários